Odyssey, do RIIZE, e a incompletude como parte essencial da jornada
- An Ode To

- 7 de set.
- 8 min de leitura
Atualizado: 14 de set.
Por Thainá M.

Odyssey, o primeiro álbum completo do RIIZE, foi oficialmente lançado em 19 de maio de 2025. Nesse meio tempo, o grupo promoveu o lançamento, iniciou a turnê RIIZING LOUD — que segue em andamento — e se tornou o primeiro nome do K-pop na line-up do festival de música Lollapalooza no Brasil, também com shows confirmados para as edições de Chile e Argentina em 2026.
Em sua jornada de dois anos de existência recém completos — ainda rookies para a indústria —, o sexteto teve sua formação alterada e sua essência questionada, mas o que se vê em Odyssey é uma resposta que ecoou diretamente do mindset do grupo, que reconhece sua trajetória ainda curta e a transformou em protagonista, junto daqueles que constroem a carreira do RIIZE ao lado deles, BRIIZE¹, e é justamente isso que torna esse álbum tão especial.
Já são cerca de três meses desde o lançamento e apesar de parecer tarde para uma review, o consumo por aqui é totalmente orgânico. Costumo levar muito a sério ouvir um álbum inteiro pela primeira vez e só o fiz com Odyssey em julho, em meu recesso apertado e apressado, apesar de ter escutado os singles promocionais Bag Bad Back e Fly Up quando saíram. Desde então, dificilmente se passou um dia sem que ouvisse ao menos uma das faixas e passasse a refletir sobre o que esse álbum representa não em termos numéricos que costumo ignorar, como charts e derivados, mas como ele põe luz a uma trajetória ainda pequena, mas cheia de desafios e glórias, e faz isso de forma coesa, tanto em conceito como em liricismo, o que o transformou, para mim, em um dos grandes e melhores do ano no K-pop.
TRACK BY TRACK
Odyssey
“Nessa jornada que chamamos de sonho
Ainda somos apenas sonhadores dando nossos primeiros passos”²
É a introdução perfeita ao álbum — não à toa o nomeia — e é incrível como todos os seus versos ecoam nas demais canções, amarrando-as. É etérea e sinestésica, quase nos levando a um cenário de céu azul profundo e límpido, com brisa fria que antecipa uma noite estrelada e traz sentimentos eletrizantes, onde a expectativa do futuro à frente faz tremer a ponta dos dedos. Os vocais suaves, sem grandes alterações de notas, flutuam de uma maneira impecável. Apesar de ser uma canção que traduz exatamente a trajetória do RIIZE em seus primeiros passos, sua sonoridade é madura e gentil, o que revela que, apesar do frescor ainda juvenil do grupo, existe uma bagagem de vida que os moldou e os tornou o que são.
Bag Bad Back
“Uma luz brilhante está sobre nós
Então nossos olhares se encontram
Estamos prontos, quem vai nos impedir?”
O princípio de eletricidade que aparece como expectativa em Odyssey se torna luz e faísca em Bag Bad Back. Muito pessoalmente, gostaria de poder defender essa faixa de todos os seus haters mal informados que a julgaram como uma genérica de outro grupo ou completamente descolada do que é o RIIZE — ainda que seja ligeiramente diferente do que eles já tinham apresentado até ali. Dentro do álbum, essa música ocupa exatamente seu lugar, sem estar um milissegundo sequer fora do tom do conceito que o constrói e confirma isso em cada verso metaforizado que nos remete aos seus treinamentos e a construção de sua confiança artística diante de holofotes e dos olhares dos que ainda não os conhecem, mas especialmente daqueles que já os acompanham. Além de tudo, é potente e enérgica, requisito básico pra uma canção escolhida para mostrar o potencial de performance do grupo, que alcança níveis grandiosos com ela.
Ember to Solar
“Erga-se como o sol, acredite em mim hoje
Esta pequena faísca vai acender e eu me tornarei o sol”
Pode entrar, a maior de todas. É exatamente o tipo de música que esperava em um álbum com esse conceito. Assim como Odyssey, tem a capacidade de transportar para uma realidade totalmente diferente, mas a uma velocidade bem maior. Sua introdução instrumental é épica, digna de uma epopeia — estamos falando de uma odisseia, afinal —, mas sua energia aumenta tão rapidamente que é de tirar o fôlego. Achei incrível que seu track video tenha partes em animação, pois sua sonoridade combina bastante com o cenário de personagens 2D cruzando o espaço na velocidade da luz, deixando estrelas para trás como linhas rabiscadas e brilhantes. É uma canção inquieta, porque mescla lugares em penumbra que guardam sentimentos sombrios e lugares que brilham como brasa pronta para explodir em pura luz de sentimentos gloriosos. É simplesmente viciante.
Fly Up
“Deixe-me ir além de todas as molduras que nos separavam
E daí se somos diferentes?”
A faixa-título do álbum é a amiga expansiva, animada e que parece sempre prestes a começar a cantar em pleno refeitório da universidade. Não à toa parece uma canção saída de um longa-metragem de estilo musical, bem mais famosos, constantes e queridos no nosso passado recente. É a década da nostalgia, não? Acho que Fly Up traz esse tipo de energia, além de mostrar que o grupo tem um planejamento musical que tem referência, o que é essencial para construção de sua identidade musical. Tenho a impressão — e digo isso por não ter muito contato com pessoas do fandom — de que ela não é a mais querida do Odyssey ou entre as titles lançadas até aqui, mas pessoalmente, se tornou minha happy pill e, se formos nos atentar à letra, pode ser muito bem sobre o carinho deles direcionado a nós, fãs, e como esse tipo de sentimento pode levar ambos a lugares inimagináveis.
Show Me Love
“Ainda que eu seja desajeitado, serei fiel a mim mesmo
Então tudo é possível
Eu vou cantar para você”
E se Fly Up deixa um tanto implícito o receptor ideal da mensagem do seu eu-lírico, Show Me Love não dá espaço para isso. É definitivamente uma canção sobre essa via de mão dupla entre fã e artista, que se alonga entre amor e desafios sobre si mesmo e sobre o outro. É uma das minhas preferidas especialmente porque valoriza vocalmente todos eles, além de ter uma das bridges mais bonitas do álbum. É preciso dizer também: é uma música que facilmente seria oferecida ao One Direction em seus anos de auge.
Passage
A interlude instrumental sinaliza que chegamos na metade dessa jornada musical. Sua construção de apenas trinta e nove segundos é como uma pausa apreciativa de um voo que está apenas começando. Dá vontade de olhar para o céu.
Midnight Mirage
“O espaço vazio do amanhecer se dissipa
Meus sonhos brilham ainda mais
Eu vou te mostrar, segure minha mão”
É preciso apreciar o céu com Midnight Mirage. Algumas canções são feitas para isso e essa é uma delas. Gosto especialmente de como ela soa juvenil e sonhadora, mas com uma pitada de confiança. Seus versos me fazem pensar sobre pessoas conversando ao ar livre, sob um céu estrelado profundo, em horário avançado o suficiente para se perguntar em que momento o sol se mostrará no horizonte, enquanto trocam confidências sobre sonhos e o futuro. É adorável.
The End of the Day
“Você não sente o meu amor como algo vivo?”
Pertence ao gênero ainda não oficializado ‘música de drama’, que comumente precisa estar presente em álbuns de K-pop, mas aqui não é mera alegoria para marcar ponto em um bingo de álbuns completos, porque funciona como parte dele, não parece descolada e muito menos nos faz temer como seria em um performance ao vivo, muito pelo contrário. God bless Lee Sohee. Além disso, é uma belíssima canção de amor, doce e imersiva, oficialmente dedicada ao BRIIZE.
Inside My Love
“Foi você que fez com que eu quisesse me tornar uma pessoa melhor”
Para mim, é a princesa do álbum. Meu Airbuds é testemunha de que eu a ouço tantas vezes, mas tantas vezes, que já me acusou de repeti-la trinta e seis vezes em um dia só. I'm just a girl. Sou apaixonada por cada pedacinho dela e gostaria de poder, inclusive, recortar seu verso final, dividido por Wonbin e Sohee, e criar um loop de uma hora para postar no YouTube, de tão satisfatório que é. Seu instrumental é tão apaixonado — sim, apaixonado mesmo e não apaixonante — que traz uma espécie de formigamento na pele. É uma música aparentemente tão simples, mas interpretada com verdade e por isso é tão marcante.
Another Life
“Agora eu sei que isso é somente uma parte do processo
Você percebe?
Estou indo para mais longe”
É o encerramento perfeito para esse recorte do caminho do RIIZE até aqui. É o tipo de canção que reflete passado, presente e futuro. Com muitos questionamentos, é claro, mas com uma confiança que se torna cada vez mais forte. Tem um instrumental belíssimo, que parece não somente encerrar esse capítulo, mas nos mostra que ainda tem muito por vir. O solo de guitarra é a ponte musical para isso, porque soa como expectativa.
ODYSSEY É UMA ODE À TRAJETÓRIA E QUEM FAZ PARTE DELA
Quando ainda não tinha escutado o álbum por inteiro, li muitas opiniões sobre Odyssey internet afora, vindas de fãs e de não fãs. O imediatismo das redes sociais não é exatamente a minha vibe, por isso o meu consumo costuma ser gradual, então soube desde o início que precisava construir minhas impressões sobre esse trabalho com o mesmo cuidado com que ele foi preparado. Sim, Odyssey foi preparado com cuidado, planejamento e conceito. Ouvintes mais desatentos, ou que não acompanham o grupo, podem não capturar a essência desse álbum ou o que ele apresenta, por isso fiquei feliz em perceber que muitos estavam errados.
Em sua listening season com a equipe que trabalhou junto ao sexteto para seu primeiro extended play, é nítido o cuidado na escolha das faixas e de seus papéis como atos nessa epopeia. Cada canção conta uma parte de sua história sob diferentes perspectivas. Sendo apaixonada por álbuns que entregam coesão e uma história única de background, não fiquei imune.
O trunfo de Odyssey, porém, é não construir uma narrativa pronta, encerrada, com um ponto final. O RIIZE sabe que ainda está no caminho para algo, mas isso não os impede de reconhecer quem são enquanto ainda constroem o que querem ser, enquanto ainda se moldam como artistas melhores, com mais referências e mais maturidade.
Uma fala específica de Park Wonbin aparece na listening season como ponto de partida para a apresentação do álbum e é preciso dar destaque: “(...) We should really think we're really nothing, humble at heart. Think we need that mindset when we do the things (...)” [Nós realmente devemos pensar que não somos nada, humildes de coração. Acho que precisamos dessa mentalidade enquanto fazemos nossas coisas]. É sob esse tipo de pensamento, que se estende por todo o grupo, que Odyssey se constrói.
O presente é o protagonista, ainda que seja incompleto, ainda que arestas ainda precisem ser aparadas no futuro. É sobre reconhecer e apreciar o lugar onde se está e quem está ao seu lado, e no caso do RIIZE, BRIIZE é quem tem feito parte dessa caminhada, por isso o fandom aparece em tantas canções.
É essa apreciação da caminhada e de quem os acompanha durante ela que unifica esse primeiro álbum completo do grupo. O reconhecimento da incompletude como algo que não diminui, mas que demonstra crescimento. As lacunas serão preenchidas com expectativas e sonhos e Odyssey é a prova de que o RIIZE mantém ambos bem brilhantes em seu horizonte.
NOTAS:
¹Nome do fandom do grupo;
²As traduções de trechos de músicas são próprias, feitas a partir da tradução KOR-ENG presente no Genius;
REFERÊNCIAS:



Comentários