YVES no Brasil - 04/2025
- An Ode To
- 17 de mai.
- 9 min de leitura
Atualizado: 3 de jun.
por Gios
Sexta-feira, 11 de abril, o início da noite de tempo ameno e vento gelado, bem no momento de transição da movimentação pela cidade: do anseio pelo descanso ou a busca por mais animação. Dessa vez foi tudo familiar, porém, um pouco mais especial, pois passei pelas mesmas avenidas de sempre, mas caminhei com o mapa aberto, ansiosa por ruas novas e ligeiramente desertas, a fim de encontrar essa agitação escondida numa das áreas residenciais de São Paulo.
VIP Station, o espaço para eventos localizado na Zona Sul, ainda se preparava às 19h00 para receber a multidão que virava o quarteirão numa vibe que misturou um rolê alternativo pela ambiência despojada do endereço com o cenário clássico de pré-show de K-pop, dos fãs mais estilosos que já vi trocarem photocards, sorrisos tímidos e venderem seus artesanatos. As conversas da fila eram empolgantes sobre estar lá e do quão longe vieram para finalmente prestigiar mais uma das garotas da Lua a nos visitar, Yves, que enfim se preparou para nos ouvir de mais perto com a última parada em sua Apple Cinnamon Crunch Tour.

(Foto: Divulgação)
O anúncio desse show foi provavelmente um dos que aguardei com maior certeza da minha presença, pelo menos desde que se tornou cada vez mais frequente a passagem de turnês dos artistas internacionais que mais gosto pelo Brasil. Isso porque Yves tem para mim uma das presenças mais memoráveis no meio dos idols desde que a conheci. Acompanhar seu amadurecimento como intérprete e artista, mas também enquanto jovem adulta — inclusive da mesma idade que eu — tem sido um processo natural de identificação, respeito e admiração sem fim pela sua trajetória.
No que resolvi prestar mais atenção em LOONA, há mais ou menos 8 anos, Yves ganhou a minha atenção imediata pelo display de carisma e destaque nas performances como membro e também em suas interações nos vídeos com as colegas de grupo: nunca faltou franqueza nos bastidores de tudo que podia compartilhar, nos comentários engraçados a dizer para arrancar reações das demais integrantes, na iniciativa de tornar cada aparição na mídia mais significativa. Resiliência, humor e afeto foram fontes de energia que fizeram dela uma narradora confiável dos sentimentos de fazer parte daquela equipe.
Enquanto parte de uma coletividade, a interpretação dos conceitos propostos era sempre executada com profissionalismo e graça imensuráveis e, nos momentos em que Yves pode expressar um pouco mais de criatividade, como nas atividades de suas redes e nos projetos de fotografia e covers que partilhou, se tornou evidente que ainda havia muito mais dela para conhecer e, principalmente, uma disposição em compartilhar os pensamentos e intenções de um futuro contado por ela mesma, em forma e conteúdo.
Nesse contexto, a busca por uma nova gravadora que contemplasse a sua visão solo foi retratada em textos do blog lastyvesniin ou no canal de vídeos YVES_OFFICIAL, que ela utiliza como meio de comunicação até hoje, num processo de reconexão consigo mesma tão profundo que as ponderações sobre o tipo de artista que gostaria de ser refletiram em letras que exibem sua vulnerabilidade — ressoam como zine ou diário aberto, dos dias escritos em caneta gel colorida às páginas mais finas e borradas por lágrimas e tinta, colagens de diversas texturas e figuras.
Tudo tão intimista, por vezes desconcertante, também belo e carregado por referências audiovisuais em comum, que o acesso a essa sinceridade e confiança nos próprios fãs reluz em feixes de esperança para as minhas próprias questões; um ombro amigo cheio de mutualidade, mesmo que não a nível pessoal, mas definitivamente numa relação de conexão real entre pessoas que vivem e fazem o que podem para encontrar e aproveitar o encanto nos detalhes da vida que podem tocar.

(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
E foi com o clima de pertencimento a uma comunidade bem humorada, que gritava em torcida por Yves, pela memória do LOONA e em agradecimento pela staff, que me vi prestes a vivenciar algo precioso: o início da apresentação foi LOOP, single do álbum de mesmo nome que marcou seu recente recomeço, contagiou a todos tão imediatamente que o som do público quase se sobrepôs ao do palco! A vibração house, a coreografia e a letra marcante contribuíram para esse apelo de imaginário balada underground, onde se encontrava liberdade para sentir um pouco mais si mesmo.
Em seguida, me deparei com duas das canções dela que mais escuto, Tik Tok e Gone Girl, presentes no segundo EP, I Did. Com a minha mania de evitar setlists antes do show, eu senti o turbilhão da surpresa no início de cada uma com um sorriso maior que eu pude, em choque com a nitidez que eu a enxergava do meu lugar e pronta para declamar com tudo de mim os versos que fazem parte da trilha sonora dos meus dias, cercada por berros dos guturais aos mais agudos e de comentários alheios que me fizeram rir na hora e ainda mais depois, ao reassistir os meus registros.
No instante em que a música terminou, ela nos cumprimentou visivelmente alegre e comentou que sentia muito pela demora para vir, mas comemorava grata e energizada a oportunidade de estar conosco no último dia de tour, tudo em inglês.

(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
Prosseguiu assim com os covers, que foram variados em cada localização da turnê. Sabrina Carpenter, Keyshia Cole, The Weeknd foram algumas das adições ao repertório em outros países, porém, para as escolhas do Brasil, as faixas poderiam facilmente se integrar às autorais: a envolvente Selfish de Madison Beer, num arranjo de perfeita sinergia com o prisma de relacionamentos, tão presente no lirismo de Yves, que não conhecer a música anteriormente me fez pensar se tratar de um trabalho inédito dela por alguns segundos.
My Happy Ending da Avril Lavigne veio logo depois e dessa eu conhecia cada palavra! Junto a nota mental de que as experiências afetam a cada um individualmente, mas sempre envoltas em alguma causa coletiva e, por tudo que significou crescer ouvindo-a nas rádios e aprendendo a tradução enquanto treinava inglês cantarolando a letra ou até criando cenários e narrativas a partir dela, cogitar que esse tipo de memória fez parte da vida de alguém como Yves e de muitos outros ali realmente foi um alento; não teria nada diferente que eu preferiria fazer naquela hora.
Quando chegou o do showcase das dançarinas, com o instrumental de DIORAMA, elas levantavam o humor e receberam muita energia de volta da plateia, que por sua vez vibrou ainda mais quando Yves se juntou a elas e prosseguiu com a canção. Os movimentos relembraram a qualidade de dançarina que faz parte de seu charme e talento, em ambas as eras de sua carreira, mesmo com a busca por novas maneiras de explorar o ofício.
“I'm just to dream in, chase my drama, it's my second day
I don't wanna free you, no, I just wanna feel you, babe
Try to fit in, change my drama, it's my second day
I don't wanna free you, no, I just wanna feel you, babe”
E para concluir a primeira metade da setlist, não importa se a escolha fez parte de uma pesquisa aprofundada sobre a nossa cultura ou se foi apenas uma preferência que reverberou da melhor forma possível, mas Thousand Miles de Vanessa Carlton foi tão bem recebida quanto as músicas da própria idol, cantada por todos como um hino ao decorrer de sua duração.
Quando o evento Q&A começou, ela contou com o auxílio de uma tradutora e respondeu algumas das perguntas enviadas previamente pelos fãs e mais uma vez, aproveitou cada oportunidade para demonstrar seu humor e interagir conosco. Entre lembranças das coreografias de trainee, rituais pré-show, influência nos looks dos shows e sugestões de atividades para Ehngdu (nome do fandom) nos dias chuvosos em São Paulo, Yves também cantarolou Hashtag quando afirmou ser essa a sua música preferida de performar.
Para a escolha de cor que mais se identificava entre as da configuração de Orchard Piece, o lightstick em formato de maçã (que é símbolo atribuído fortemente a ela desde o debut), apelou para a opinião pública e preferiu vermelho. E por fim, quando questionada sobre influências musicais brasileiras para o próximo comeback, foi sua vez de aceitar conselhos e logo se viu reproduzindo o ”tchu tcha tcha tchu tchu tcha” tão marcante do funk nacional com uma dancinha adorável.
(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
O retorno das faixas foi com Goldfish, apresentada em meio a luzes brancas e completamente em coreano. Essa foi também a melhor maneira de apresentar blah para o seu público, o artista e colega de empresa que compôs a canção e contribuiu com a participação em todas as datas da turnê.
Com uma presença carregada por melodias sinceras do piano e o embalo etéreo de sua voz, ela pode sentir o acolhimento de todos que estavam lá e lhe ofereciam luzes e palmas calorosas durante as canções: Time Slip Movie, Still, Perhaps I e Faded Yesterday. O agito real ficou por conta de seu último número, As It Was de Harry Styles, que aconteceu num movimento tão orgânico e com certeza ganhou boa parte da plateia como ouvintes em potencial. Com muitos agradecimentos e a promessa de mais do seu som nas plataformas, blah se despediu recebendo todo o nosso carinho.

(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
Após uma breve pausa, o palco novamente era dominado pelas dançarinas que demonstravam, uma a uma e com grande aclamação, os passos que aumentaram as expectativas para a próxima faixa ser das favoritas. O som das caixas e o banco preto utilizado na performance entregavam a pista de que Hashtag estava finalmente chegando.
Quando Yves retornou com um look totalmente novo e a coreografia mais enérgica desse disco, foi até difícil encontrá-la no palco perante os celulares postos para gravar este momento. Tanto nesta quanto em Viola, o single que veio em seguida, era nítido o quanto ela e o corpo de dança estavam se divertindo com o que entregavam e recebiam de volta!
A transição das últimas canções caminhou para uma despedida mais calma, de pop rock acústico e muitos sentimentos que ainda buscavam solução: os lançamentos adicionais em I Did: Bloom (Deluxe), BIRD e See you in hell, ambas como retratos quase sequenciais das emoções de passar pelo caos para encontrar um conforto na travessia do fim, a contemplar o que vem depois. Yves percorreu todos os lados e tinha olhar para todos os setores da casa, ela realmente observou com cuidado todo o amor que a rodeava.
Sua entrega vocal brilhou ainda mais naquelas cores, com a comoção dos Ehngdus na conversa. Afterglow, portanto, chegou como a resolução de toda a tensão lírica. Ela propôs cantar os melismas “He-ey” e “O-ooh” após o refrão para respondermos em seguida, o que foi prontamente atendido e, junto aos celulares que ela pegou dos fãs para tirar fotos, ajudou ainda mais a reafirmar a importância daquele momento para todos ali. Nesse ponto, Yves já falava sobre retornar e não demorar para sentir isso conosco outra vez.

(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
Faltava apenas mais uma canção para o fim, mas a nosso pedido, ela aceitou cantar e dançar o refrão de new, um flashback do debut, numa versão breve e acapela que foi a realização de um sonho. É um bom exemplo do tipo de música que tem me acompanhado por tanto tempo que já faz parte de muito de mim — a voz de Yves já conta um pedaço da minha própria história… Ao vivo então, se tornou recordação valiosa para revisitar!
No fim, ela eternizou DIM em São Paulo à sua própria maneira — uma gravação no seu celular de todos cantando junto dela, a faixa tão nostálgica e querida pelo público que furou a bolha e se tornou o primeiro lugar entre os virais do TikTok. Com balões circulando pela plateia, os confetes e fitas que reluziam mesmo no escuro, a missão dela de capturar todos que podia na filmagem se tornou mais um ato de carinho mútuo registrado.
Yves deixou o palco no final, com a percussão Trap/Soul de DIM que me fez viajar pelas espirais daquele momento. Boa parte das pessoas ao meu redor pareciam imersas na mesma situação, numa certa incredulidade de que estava acabando, mas ainda assim em euforia. Aos gritos de “eu te amo”, ela logo retornou e junto veio toda a equipe que a acompanhou, as dançarinas e blah, com camisas amarelas da seleção de futebol. O encore foi Viola, com direito a apresentação e discurso de agradecimento, bandeira brasileira personalizada numa mão e a bandeira da comunidade lésbica, que ela carregou com orgulho e animação, na outra.

(Foto: Arquivo Pessoal/Gios)
Como se toda a noite já não tivesse sido uma prova de que é possível encontrar cura e pertencimento no abraço à estranheza dos sentimentos, enquanto imersa em uma onda de empatia direcionada à artista que proporcionou este encontro, até mesmo o retorno para casa me surpreendeu, conforme os Enghdus se organizaram em grupos pelas ruas adjacentes e guiaram uns aos outros aos terminais e estações de transporte público das redondezas. Eu, que estava sozinha, fui convidada a me juntar a outras meninas que procuravam a melhor rota. Também pude ajudá-las com direcionamentos mais específicos depois e assim, foi ainda mais gratificante perceber que alguém que eu gosto tanto fez um bom trabalho em criar espaço para tanta gentileza!
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